Rádio Marginal

08/09/11

Alberto Munguambe, antigo aluno e de Mabalane...

Caro irmão.
Permita me que assim te trate. Sou Moçambicano. Preto. Mas de bom coração e saudosista. Tenho acompanhado os emails e o site dos ex estudantes de D. Bosco em Lourenço Marques.
Fui estudante do colégio e saí em 74 por causa da revolução. Fiz o primeiro ano e estou na lista das fotos dos estudantes.
Chamo-me Alberto Angelo Munguambe. Hoje tenho 50 anos. Tudo bem. Sou de Mabalane.
Aí é que o Alencoão vai mesmo adorar. O Alencoão afinal é o Tó-Zé? Malandrote. Conheci-te bem. A tua casa ficava perto da estação dos CFM e está lá até agora na primeira fila do lado esquerdo, no fim da mesma rua vivia um senhor que tratava das lotarias e totobola.
Na frente ficava a casa dum fulano que chamavamos de camisa dor de laranja, bom jogador de futebol de salão. Tu tinhas uma caçadeira e gostava de caçar rolas. Nós te faziamos o corte. Gostavas de nos juntar e íamos contigo as rolas.
Lembras-te do Yazalde? Lembras da Tucha? Do Mário Zé, do Tó? do senhor Falcão da loja? do sr. Sabino? Tu eras um craque também na bola. Nos jogos dos CFM e Cadeia de Mabalane era um regalo ver-te a jogar.
Um dia nós andamos a porrada. É assim. Eu tinha um grupo que ía sempre a padaria a noite. Passavamos  em frente a tua casa com fisgas para caçar uns passaros chamados passanoites que frequentavam a tua zona residencial. Vocês ( tua gang muito famosa) nos provocaram e um primo meu deu-vos uma boa lição de porrada. De regresso da padaria vocês escondidos em cima das arvores da tua casa (frequentavam nas os pardais) saltaram e foram para cima de nós. Bateu se duro, e pela idade que tenho, penso que houve empate com feridos e muita amizade. Tozé.  Ainda hoje se fala de ti nos círculos do pessoal de Mabalane. Eras malandro. Sempre com pretinhos (nós) a caçar rolas, as quais nos oferecias de quando em vez.
Gostavas de andar de bicicleta.
Agora vivo em Maputo, na capital. sou jornalista, editor de um semanário, o maior de Moçambique chamado Zambeze. Estive em Portugal em 2002 a estagiar na Universidade Católica por 60 dias. Não tinha os endereços e não tinha contacto com ninguém. Na próxima vou procurar a malta. Muitos facilmente se recordarão, por exemplo o Tó, o Cavaco, o Bordalo, o Gravata , o Garrafão, o Fitas, o Mário Rui (lembro de uma peça de teatro onde ele se saiu bem falando dum rapaz pobre), o Eugénio e seu irmão, o Padre Nuno (que saudades dele) etc etc

Alberto Angelo Munguambe

A minha resposta:
Olá Alberto,

foi com uma enorme emoção que li cada palavra que me enviou.
Abri este blog há uns anos para poder juntar o pessoal que andava pelo mundo.
E tenho tentado dia após dia.
Guardo fotos, relatos, musicas, informações, tudo o que posso recolher num pequeno espaço para memória colectiva.

Por vezes aparecem estas recordações que nos fazem vir a lágrima ao canto do olho.
Não tem a ver com revoluções, politicas ou religiões.
Mas tem a ver com épocas, uma época que eu recordo. Épocas que todos nós recordamos.
A nossa infância. Meninos, a escola, a bola, os pardais, as malandrices... bons tempos.
Vale a pena estar para poder ir recebendo no tempo estes mails, estas recordações.
Vou transcrever esta carta para o Blog e sei que alguns de nós (de Mabalane) vão voltar uns
quantos anos atrás e recordar. Quem sabe com a mesma lágrima ao canto do olho.
Bons tempos aqueles, companheiro, bons tempos. Na terra da Boa Gente! Em Mabalane.

Vai dando noticias que serão sempre bem vindas. Tudo o que me puder enviar é bem recebido.

Gostei mesmo de receber este mail. A minha memória já me trai. A de todos nós. 
O meu obrigado.

Alencoão

Nota: há neste mail muita lembrança, mas eu jogava mal a bola e não tinha uma caçadeira. E vivia na última casa paralela com a linha do comboio. Ao fim de tantos anos, não faz mal um erro de memória e tenho a certeza que vai aparecer quem se lembre ainda melhor de tudo isto e de todos estes nomes.
Mas valeu a pena relembrar. Vale sempre.
E espero que o Tó Carlos com a sua memória de elefante se lembre de tudo isto.

4 comentários:

abel disse...

Alencoão, e eu que nunva vivi em Mabalane fiquei encantado com a descrição contada pelo Alberto Ângelo Munguambe, logo recordei a minha Missão de S.José de Lhanguene.
Um abraço
ABS

Anónimo disse...

Deliciosa esta mensagem de amizade. Mas uma coisa já nós sabiamos Alikas; jogávas mal à bola e eras um malandreco. E logo de caçadeira.
...Lembrei-me agora do nosso saudoso companheiro/menino Geada que faleceu com uma coisa dessas numas férias -a caçadeira-.

Um saudoso abraço para todos

AlikasPT disse...

Não era eu...
Eu saí de Mabalane com 9 anos, não tinha nem pressão de ar e jogava mal a bola e tudo o resto. mas era bom a ser malandreco............ hahaha
Mas ainda espero que aqui apareça quem se lembre destas coisas e conte um bocadinho mais.
Porque gostei de receber o mail e já agora gostava de saber mais destas pequenas histórias desse tempo que foi bom.

Anónimo disse...

Eu,não fui de Mabalane,mas com esta descrição do Alberto Angelo acho que perdi muito .
Que o Alikas é malandro já todos nós sabemos.

Obrigado Angelo por poderes mostrar aquela faceta que não conhecia do meu amigo Alikas,papa Xamuças.
Granja