Mensagem do Irmão Gomes em Moçambique

Olá, no momento em que escrevo é boa tarde.
Fiquei muito feliz com a mensagem sobre os encontros dos AAS. Muito obrigado.
Tenho pena de não poder estar lá, por motivos óbvios.
Se coincidisse com a minha estadia em Portugal, iria de certeza, não tanto para comer e beber (também para isso, claro), mas sobretudo para rever e abraçar tanta gente que se cruzou no meu caminho, ao longo de quase dez anos de Mouzinho.
Foram anos inesquecíveis, com muitíssimos momentos e episódios excelentes, alguns menos agradáveis, porque a vida é assim mesmo, foi assim mesmo.
Tantas amizades com tantos meus alunos, e com seus pais, em muitos casos!
No Mouzinho dei o meu máximo por aqueles meninos. Estava no auge da minha juventude, pois cheguei lá com 25 anos fresquinhos. Eram 24 x 24, sempre com eles, de domingo a 2ª e de 2ª a domingo. Nas aulas, nos recreios, nos paseios, no descanso, nas férias, no desporto, no teatro, ... Este meu disco rígido já está cansado e farto de ser reformatado. Mas há muitas coisas que não se apagarão nunca. Fazem parte da essência da minha vida de salesiano.
Tenho ido ao Blog matar saudades. Revejo pessoas nas fotos. Às vezes uma lágrima teimosa rola pelos cantos dos olhos. Que fazer? Estou na idade em que voltei a menino.
Acompanho com pesar algum falecimento que vai sendo anunciado.
Não estou a citar nomes, porque são poucos aqueles que ainda recordo o seu nome, e seria injusto deixar a maioria esquecida.
Um grande abraço para esses bravos guerreiros do IMA.

Cá estou em Lourenço Marques, hoje Maputo, e parece que vão mudar-lhe o nome para "KAPFUMO". Os nomes dos bairros já estão a receber os nomes originais, suponho que serão os nomes do sistema tribal. Não sei explicar.
Continuo na Missão de S. José, com a responsabilidade da direcção do Centro de Formação Profissional, com três especialidades: Electricidade de edifícios e de motores; serralharia mecânica; e Corte e Costura para meninas e senhoras.
É, inegavelmente, um serviço social que prestamos a estes jovens, todos já com vinte e mais anos, alguns já jovens pais, embora não casados formalmente.
Não estudam, ou estudam à noite. De dia não fazem nada. Frequentando o curso, não só ocupam o tempo, mas sobretudo adquirem habilidades que os vão ajudar a comer honestamente o pão de cada dia.

Os AAS de cá têm a Associação legalizada e têm enorme vontade de juntar os AAS e as AAS. Mas está a ser difícil. Quem está a dinamizar a Associação é um pequeno grupo de AA da Missão de S. José, junto com um pequeno grupo de AA do Mouzinho, como o Ião (o china), o António Menezes, o Filandro, o Mauro... Todos eles cinquentões e mais. A malta nova está com os Salesianos um ano, dois anos, o máximo três. Não chegam a ganhar aquela estima e aquele amor à causa que é típico dos AA do meu tempo. Deixam-nos quando ainda são adolescentes, na sua maioria. Não voltam mais.

Uma simples mensagem não dá para contar e falar de muita coisa. Se um dia houver uma ocasião propícia, não a deixarei escapar. Assim Deus me dê vida e saúde, como me tem dado até aqui.

Tomo a liberdade de enviar a minha foto mais recente, tirada quando regressava das oficinas, cansado, mas feliz.

Um grande abraço para todos os AAS conhecidos, do Mouzinho, e para todos os não conhecidos, quer do Mouzinho, quer do Dom Bosco, quer ainda da Missão de S. José.
Muitos beijinhos para as Antigas alunas, do João de Deus e do Maria Auxiliadora. Confesso que não conheço quase nenhuma. Sabem como era naqueles tempos: elas lá, e nós cá.

ass: Joaquim Gomes Raposo


Nota: Sempre fui e sou lagarto, uma saudação leonina para os que são da minha cor. E vamos esperar que deixem de ser lagartixas inofensivas que levam 'porrada' de todos.

Abraços e excelentes convívios...