Rádio Marginal

16/02/11

Cila Sequeira

Olá Amigos e antigos colegas de escola !

Estive mês passado em LM (Maputo) onde já não ia há quase 10 anos. Devo confessar-vos que a cidade deu um grande salto qualitativo quando comparado com o caos de uma década atrás, tendo crescido muito, especialmente para a zona da Polana onde a "Polana caniço" se tornou num bairro chic, com mansões e palacetes a que deram o nome de Sommerchild II. É verdade que a velha Baixa citadina parece em parte relegada a um visível abandono, não só alguns dos seus velhos e emblemáticos edifícios, como, por exemplo, o Scala e o Continental mas também as calçadas e passeios desta antiga zona de maior circulação da cidade, onde até hoje se mantêm as ruínas do Edifício Karel Pott, onde se situavam algumas sapatarias e alfaiatarias e também um muito conhecido restaurante justamente no início da antiga Avenida D. Luis, salvo erro é este o nome, aquela que cruza com a Av da República, pelo Scala, subindo até ao Conselho Municipal/Catedral - não se poderia colocar, por exemplo, um tapume de madeira ou outro material plástico, qualquer coisa visualmente decorativa ou não, desde que pudesse alterar positivamente o visual do local, não só aos olhos da população local mas também dos frequentes turistas que demandam esta cidade? Mas não só este espaço como também a antiga Marta da Cruz e Tavares, no mesmo quarteirão, que foi vítima de um incêndio - supostamente criminoso na opinião de alguns cidadãos - permanecendo, os seus escombros, a céu aberto até hoje...a Casa Coimbra, também "pereceu" estando este velho e outrora bonito e muito frequentado estabelecimento onde práticamente de tudo se vendia, agora completamente desactivado....Mas muita coisa nova e bonita vi, especialmente na área da construção civil, onde parece estar a acontecer um crescente "boom" com belas casas e casarões obedecendo a um inovador e inspirado conceito arquitectónico protagonizado por jovens engenheiros e arquitectos moçambicanos, neste bairro do Sommerchild II a que se juntam em algumas outras localidades e para as camadas económicamente mais débeis da população, bonitas e funcionais casas populares. Ainda em Maputo vi também e nelas transitei, uma boa dúzia de novas e boas estradas rasgando pelo interior dos bairros periféricos, permitindo a circulação dos "chapas" nessas zonas e possibilitando e encurtando e humanizando a deslocação das populações que aí vivem. Muitas casas comerciais de pequeno porte, à medida das necessidades e dos limitados recursos dessas populações (padarias, alfaiatarias, materiais de construção, bares e quiosques e pensões e cabeleireiros, etc...etc...). E pasmem ! Durante cerca de 20 dias que lá permaneci, não vi na cidade e na periferia, um único pedinte nem ninguém esfarrapado, onde até os mais humildes se apresentavam razoávelmente bem vestidos e calçados - consequências do comércio informal (ilegal) que campeia por toda a cidade, mesmo em frente das lojas dos comerciantes devidamente estabelecidos ? Ou será que estes vendedores ambulantes (informais) são "laranjas" dos próprios comerciantes ? Pois não entendi como é possível venderem na calçada todo tipo de, por exemplo, calçado, justamente em frente de uma loja que também vende calçado ? Como será que estes comerciantes licenciados podem suportar esta concorrência, supostamente desleal, porquanto não pagando impostos, podem estes vender muito mais barato que eles ? Como podem suportar isto sem se rebelarem ? Sem que se vislumbre no horizonte um fim a este estado de coisas ? Sem qualquer reacção aparente das entidades repressoras das actividades ilegais ? Resposta ? Serão os próprios comerciantes os fornecedores dos vendedores ambulantes ? As autoridades fazem vista grossa a isto ?

Bem, seja como for, o facto positivo é que, em consequência ou não, destas práticas, as camadas mais desfavorecidas da sociedade têm acesso a certos bens de consumo que, provávelmente de outra forma não poderiam alcançar. Seria esta uma forma indireta de aumentar o poder aquisitivo das populações ?...

Fui a Inhambane tendo de passagem visitado a Praia do Bilene, um espectáculo maravilhoso ! Junto algumas fotos do Complexo Hoteleiro e de Campismo. Estive também no Tofo, que praia maravilhosa !

Outra agradável surpresa - as estradas intermunicipais, algumas em franca recuperação e objecto de melhoramentos com a construção de bermas e valas de drenagem das águas das chuvas; alguns outros kilómetros de estrada que mais parecem auto-estradas, obras a cargo de empresas chinesas e também portuguesas.

Inhambane, a minha terra-natal, continua sendo uma cidade que prima pela limpeza, com o seu património imobiliário também muito bem conservado...embora mais pareça um museu, quase não se vendo vivalma...apelidada por Vasco da Gama de "Terra da Boa Gente", é pena que a sua velha estátua que se encontrava no jardim municipal em frente ao cais e que foi, compreensívelmente dali retirada aquando da Independência de Moçambique, ainda hoje, passados que são mais de 35 anos, a sua volta ao mesmo local ou a uma outra praça com o seu nome, embora já equacionada pelas autoridades competentes, ainda mão tenha sido concretizada. Segundo o "Portal da TV Cabo de Moçambique", [...] "A proposta, segundo o director Provincial de Turismo, Martinho Muatxiwa, aguarda aprovação na Assembleia Municipal da cidade e é justificada com o reconhecimento da importância de Vasco da Gama - que aportou na baía de Inhambane em 1498, a caminho da Índia - para a promoção turística da região..."

Nós "manhambanas" de nascimento e de coração, aguardamos a aprovação dessa justa proposta...para que a História não seja apagada dos vindouros - não dá para se falar de "Terra da Boa Gente" sem se falar de Vasco da Gama, assim como não se pode falar, de Independência de Moçambique, dissociado da figura de Samora Machel.

LReis

1 comentário:

Anónimo disse...

...não é preciso ser "manhambana" de nascimento,para o ser de coração...
È bem verdade,que Inhambane foi dos sítios mais bonitos onde vivi,pena é terem sido só 3 anos...
Tó Carlos